O Parceiro FEPSA apoia projeto de integração social

Os feltros dos chapéus de São João da Madeira também são um meio de integração social diz o Jornal o Público.

Feltrando é um projecto que reaproveita resíduos industriais e dá emprego a gente em risco de exclusão. A ideia é uma das dez finalistas do Concurso de Inovação Social da Área Metropolitana do Porto.



"Eles não falam muito, os olhos não se desviam do trabalho. António Azevedo, 58 anos, intercala com cuidado as tiras de feltro pretas e vermelhas numa mala de senhora. Nunca tinha manuseado esse material que dá vida aos chapéus e que é uma das mais nobres matérias-primas de São João da Madeira. António foi operário da construção civil, chegou a fazer biscates na arte, e enveredou por caminhos com vários sentidos proibidos. Está num processo de recuperação de um vício que lhe consumiu o corpo e atormentou a alma. Deixou de ser beneficiário do Rendimento Social de Inserção, tem agora um emprego, horário, objectivos. António é um dos funcionários do Projecto Feltrando, programa de empreendedorismo social do Trilho da Santa Casa da Misericórdia de São João da Madeira, que tem agora loja aberta na Oliva Creative Factory. A ideia surgiu há cerca de três anos num atelier ocupacional para toxicodependentes e alcoólicos em recuperação que criaram, com as próprias mãos, acessórios de moda exclusivos, peças de design m

Os resíduos industriais de feltro que chegam da empresa Fepsa transformam-se em vários produtos. Na montra da loja, está uma antiga máquina de costura Oliva, uma televisão antiga e pequenas malas de senhora penduradas por fios transparentes. No espaço de venda, há malas Miss Olive, cadeiras de praia metálicas e articuladas forradas a feltro, cadeiras antigas de madeira revestidas a feltro, "despeja-bolsos" feitos com feltro, móveis antigos com pormenores desse material. Todos os produtos que nascem das aparas dos chapéus são feitos à mão e há ainda a possibilidade de produzir objectos personalizados, ao gosto de cada cliente. 

Feltrando é uma das 10 ideias finalistas do Concurso de Inovação Social da Área Metropolitana do Porto e foi objecto de estudo, como exemplo de boas práticas, do Mapa de Inovação e Empreendedorismo Social do Instituto de Empreendedorismo Social.

António Azevedo tem de estar atento. “É fácil e é difícil”, comenta em relação ao trabalho que tem em mãos. Fácil, porque sabe como as tiras se entrelaçam. Difícil, porque qualquer distracção pode resultar num erro, e então é preciso começar do zero. “Tenho de estar muito concentrado”, garante António.

O colega Amadeu Marques, de 46 anos, corta um feltro do que não será um chapéu, mas uma mala, com uma tesoura que dá o efeito de ziguezague. Corta as tiras para as malas Miss Olive, de que há três modelos – Business, Urban e Classic, todas com inside bag, algumas feitas com chita. Amadeu também é contido nas palavras. Trabalhou em fábricas de calçado e nunca imaginou que, um dia, estaria a fazer malas de senhora. “A minha vida deu uma volta grande”, confessa. E pouco mais diz. “Estou aqui para aprender, e está a correr bem”.

Filomena Almeida é escultora, é de São João da Madeira, e está no Feltrando desde o início. Orientou o atelier ocupacional na Misericórdia são-joanense e introduziu diversos materiais – gesso, barro, metais – para envolver consumidores de substâncias psicoactivas em risco de exclusão social num processo manual com objectivos sociais debaixo de olho. O feltro já andava na sua cabeça por todas as razões. “Há uma dose muito pessoal no projecto, desse gosto pelo feltro”. Filomena é designer do Feltrando e começa a fazer testes para a colecção Outono/Inverno das malas Miss Olive. “Todos os produtos são manufacturados. De São João da Madeira para o mundo. Voltamos assim a ver as nossas coisas com outros olhos, com mais carinho, com mais cuidado”, comenta a designer.

Feltrando nasce do feltro e é mais do que um verbo no gerúndio. É um projecto social. Branca Correia, assistente social, directora técnica do Trilho, resume o projecto em quatro vertentes. “Recuperar pessoas, recuperar tradições, recuperar resíduos industriais, recuperar equipamentos”, refere, acrescentando que o objectivo da Misericórdia não é ganhar dinheiro, mas sim tornar o projecto sustentável para que possa integrar mais gente com o perfil definido. Branca Correia assume que o Feltrando quer ir mais além ao “assumir-se como veículo por excelência para a concretização de um projecto de empreendedorismo social de inclusão no mercado de trabalho”.

Alexandra Mortágua, psicóloga do Trilho, já notou diferenças nos funcionários do Feltrando. “Nota-se uma evolução muito grande”. A auto-estima aumentou, adquiriram novas competências, deixaram de estar dependentes do RSI, têm objectivos a cumprir, horários a respeitar, estão mais autónomos. E até mais vaidosos. Mudanças pessoais e profissionais que, no fundo, são a razão de existir do projecto social.

Incubar na Oliva para ganhar asas




Os responsáveis pelo Feltrando perceberam que tinham nas mãos uma ideia que podia crescer, conquistar dimensão e ganhar asas fora do espaço da Santa Casa da Misericórdia de São João da Madeira. O trabalho de investigação e produção a partir dos conceitos de redesign e de design sustentável, em que o feltro é o protagonista, queria pôr os pés ao caminho. A câmara recuperava a zona de fabricos gerais da antiga metalúrgica Oliva com o intuito de transformar o espaço num centro de artes e de indústrias empreendedoras.

No início do ano passado, antes de abrir, a autarquia criou o Oliva Rewind Award, concurso que daria às melhores ideias apresentadas um prémio de 2.000 euros mais um ano gratuito na incubadora da Oliva – concurso apadrinhado pelo arquitecto Eduardo Souto de Moura, o designer Henrique Cayatte e o estilista Miguel Vieira.

O Feltrando viu ali uma oportunidade, apresentou uma candidatura, venceu numa das cinco categorias e fez as malas para a Oliva. A loja abriu no início de Junho. Neste momento, tem loja de porta aberta, vendas online, alguns pontos de venda como a Santa Casa no Porto, e disponibiliza serviços personalizados ao cliente, mas também a escolas, câmaras, hotéis, empresas, consultórios, entre outras instituições, interessados em reabilitar mobiliário em desuso ou danificado com o toque único do feltro."

Para mais informações consulte o facebook aqui.

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